Pelo menos 60% dos idosos do Nordeste possuem fatores de risco associados à Covid-19

À medida que o surto do novo coronavírus (Covid-19) avança os pesquisadores estão aprendendo mais sobre quais indivíduos correm maior risco de adoecerem gravemente – e até morrerem – da doença. Dados da Universidade Johns Hopkins, deste sábado (04.04.2020) indicam que a Covid-19 foi confirmada em mais de 1,1 milhão de pessoas e cerca de 64 mil óbitos em todo o mundo, e no Brasil, já são mais de 10 mil casos confirmados e 432 mortes.

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A Covid-19 é uma doença nova e as informações sobre fatores de risco para evoluções graves dela são limitadas. Com base nas informações disponíveis no momento e nos conhecimentos clínicos, idosos e pessoas de qualquer idade com condições médicas subjacentes podem estar em maior risco por causa da Covid-19. Um estudo publicado na semana passada na revista The Lancet Infectious Diseases examinou dados de indivíduos que testaram positivo para Covid-19 em 38 países e descobriram que o risco de morte pela doença aumentava a cada década de idade e para aquelas pessoas que apresentavam alguma condição clinica (morbidade) associada, tais como: hipertensão arterial, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares, doenças respiratórias crônicas e câncer.

No Brasil, o cenário não é diferente. Segundo dados atualizados do Ministério da Saúde, observa-se ao menos um fator de risco associado em 79% dos óbitos ocorridos até o momento. Destes, cerca de 90% tinham idade igual ou superior a 60 anos. Segundo as estimativas populacionais do IBGE para 2019, no Nordeste a população idosa (com 60 ou mais anos) correspondia a cerca de 11,4% da população total. Neste cenário, destaca-se a Paraíba com (12%) e Bahia com (12%) e em direção oposta, Maranhão (10%) e Sergipe (9%).

Em relação as condições de saúde da população, estimativas da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS, 2013) apontavam que ao menos 61% dos idosos da região relataram terem algum diagnóstico médico para: hipertensão arterial, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares ou câncer. Entre esses fatores, destaca-se a hipertensão arterial e diabetes mellitus. Conforme o gráfico da Figura 1, essas duas comorbidades são as mais comuns entre os idosos de todos os estados da região Nordeste, com maior ocorrência de hipertensão arterial na Paraíba (53%) e diabetes mellitus em Alagoas (24%).

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Figura 1. Distribuição dos principais fatores de risco, segundo UF,  para agravamento e óbito da COVID-19, na população com 60 anos ou mais. Nordeste, Brasil. Fonte: IBGE/MS, Pesquisa Nacional de Saúde (PNS-2013).

É importante notar que a presença de condições de saúde favoráveis ao agravamento e mortalidade da Covid-19 varia também de acordo com as diferentes faixas etárias dos idosos, conforme se observa na Figura 2. Mas a presença de condições crônicas explica apenas parcialmente a alta taxa de mortalidade em pessoas mais idosas. À medida que envelhecemos, nosso sistema imunológico enfraquece. Isso nos torna mais vulneráveis a infecções de todos os tipos.

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Figura 2. Fatores de risco, por faixa etária e estado. Nordeste, Brasil. Fonte: IBGE/MS, Pesquisa Nacional de Saúde (PNS-2013)

Quando o sistema imunológico se desenvolve em pessoas mais velhas, há também uma maior probabilidade de um fenômeno chamado síndrome de tempestade de citocinas (hipercitocinemia). Uma tempestade de citocinas é uma reação imune grave na qual o corpo produz células e proteínas imunes que podem destruir outros órgãos. Para muitos pacientes que morrem com a Covid-19 pode ser que seu próprio sistema imunológico, e não o próprio vírus, que leve ao golpe fatal.

As citocinas são pequenas proteínas liberadas por muitas células diferentes do corpo, incluindo as do sistema imunológico, onde coordenam a resposta do corpo contra infecções e desencadeiam inflamações . O nome ‘citocina’ é derivado das palavras gregas para célula (citocito) e movimento (kinos).

Tempestades de citocinas podem explicar por que algumas pessoas têm uma reação grave aos coronavírus, enquanto outras experimentam apenas sintomas leves. Eles também podem ser a razão pela qual as pessoas mais jovens são menos afetadas, uma vez que seus sistemas imunológicos são menos desenvolvidos e produzem níveis mais baixos de citocinas causadoras de inflamação.

Nas últimas duas décadas, muito se aprendeu sobre o diagnóstico e o tratamento das síndromes de tempestades de citocinas. Nas linhas de frente da resposta do Covid-19 é fundamental que os profissionais médicos estejam cientes da síndrome e preparados para identificá-la e tratá-la.

José Vilton Costa – Demógrafo, professor do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais (DDCA) e do Programa de Pós-Graduação em Demografia (PPGDem) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Confira essa e outras análises demográficas também no ONAS-Covid19 [Observatório do Nordeste para Análise Sociodemográfica da Covid-19] https://demografiaufrn.net/onas-covid19

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