ALCYR VERAS (economista e professor universitário)
Perdemos Delfim Netto, o mais influente economista brasileiro de todos os tempos. Uma das mentes mais brilhantes da história recente de nossa economia. Seguidor da linha macroeconômica Keynesiana, era considerado um “desenvolvimentista”, sobretudo por ter elaborado, juntamente com sua equipe, o primeiro Plano de Desenvolvimento Econômico Integrado.
Por quase três décadas, durante os governos militares, exerceu com dignidade, em períodos diferentes, os cargos de Ministro da Fazenda, da Agricultura, do Planejamento, e de embaixador na França. Não era seu feitio agradar por meio de bajulação. Pelo contrário, era respeitado por sua competência, firmeza de caráter e capacidade de convencimento. Não era daqueles que, para se manter no poder, acendem, ao mesmo tempo, uma vela para Deus e outra para o diabo.
Tinha a rara habilidade e paciência em lidar com jornalistas e com repórteres inconvenientes. Não caía nas armadilhas das perguntas.
Como possuía pleno domínio de seus conhecimentos profissionais, dava-se ao luxo de utilizar o bom humor no trato com seus eventuais opositores. Gostava de fazer comparações de “efeito frasista”, como, por exemplo: “a parte mais sensível do corpo humano é o bolso.” O ainda: “todos querem reforma agrária e redistribuição de renda, mas desde que sejam realizadas na propriedade do vizinho, doando ao povo seu patrimônio e seus ativos financeiros!”
Foi hábil negociador da dívida externa brasileira com o FMI – Fundo Monetário Internacional. Delfim Netto foi, também, Deputado Federal pelo Estado de São Paulo durante vinte anos (1987 a 2007). Professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), publicou mais de dez livros, entre eles: “O problema do Café no Brasil” (sua tese de doutorado); “Planejamento e Desenvolvimento Econômico”; e o “Brasil do Século XXI”. Tornou-se assíduo articulista da revista “Carta Capital”, e dos jornais: “Folha de São Paulo”, e “Valor Econômico”.
No início dos anos setenta, o então Ministro Delfim Netto empreendeu um desafiante e audacioso plano de desenvolvimento econômico acelerado, com volumosos investimentos em infraestrutura, e a realização de grandes obras e expansão de indústrias siderúrgicas, ampliação do potencial de geração de energia elétrica e a petroquímica. Com isso, o Brasil obteve uma extraordinária taxa de crescimento do PIB com oscilações entre 9% a 14%, que ficou conhecido como a época do “milagre econômico”. Em 2014, Delfim Netto fez a doação de sua biblioteca pessoal, formada por cerca de 90 mil títulos (entre livros, revistas especializadas e artigos), à Faculdade de Economia da USP.
Não gostava de ser chamado de Super-Ministro, mas possuía o carisma e o mito de ser uma liderança natural e espontânea. Conquistou o status de celebridade, não por imposição de uma falsa modéstia, mas pela inteligência de sempre apontar alternativas diante do complexo universo da economia. Costumava dizer: “o país só pode enfrentar os problemas econômicos, crescendo mais do que a crise”.
Admiradores mais fervorosos chamavam-no de “o estadista” da economia brasileira.
Por ironia das circunstâncias, faleceu no dia 12 deste mês de agosto, às vésperas do dia do Economista, que é comemorado no dia 13 de agosto. Outra particularidade curiosa, já nasceu comprometido com o Trabalho, no dia 1o de maio de 1928.
Publicação a pedido do economista ALCYR VERAS, filiado ao Corecon-RN.